Conectados demais, próximos de menos

Nunca estivemos tão conectados. Entre mensagens, notificações e redes sociais, é possível conversar com qualquer pessoa em segundos, mas, de maneira contraditória, talvez nunca tenhamos nos sentido tão sozinhos. Basta observar ao redor: casais em restaurantes, famílias na sala de casa, amigos reunidos, todos juntos, mas cada um mergulhado em sua própria tela.

Esse fenômeno tem um nome silencioso e doloroso, solidão acompanhada. Estamos fisicamente presentes, mas emocionalmente ausentes. É quando dividimos o mesmo espaço, mas não nos encontramos de verdade.

Como psicanalista, escuto frequentemente relatos de pessoas que dizem: “Ele está sempre em casa, mas parece que não está comigo” ou “Conversamos todos os dias, mas sinto que não me escuta”. O problema não é apenas a tecnologia, mas o modo como ela ocupa o lugar do encontro humano.

Companhia verdadeira só existe quando podemos ser nós mesmos diante do outro, para isso, precisamos de espaço, tempo e atenção. Mas como sustentar essa experiência se o olhar está sempre dividido com uma tela? A hiperconexão nos fragmenta, rouba de nós a disponibilidade psíquica necessária para estar em relação.

Mas perceba, o risco não está apenas nas grandes discussões, mas nos pequenos momentos que desaparecem, a conversa solta depois do jantar, o silêncio confortável, o riso inesperado. É nesse espaço aparentemente simples que os vínculos se fortalecem. Quando esses instantes são substituídos por rolagens infinitas em aplicativos, algo vital se perde.

Não proponho que abandonemos a tecnologia. Ela trouxe avanços, encurtou distâncias, aproximou pessoas. Mas é preciso refletir, até que ponto ela tem nos afastado justamente de quem mais importa? O que sustenta um relacionamento, uma amizade, uma família, não é estar perto apenas no corpo, mas estar inteiro, com presença, atenção e afeto.

Talvez o gesto mais revolucionário da nossa era seja o mais simples, desligar o celular e olhar nos olhos de quem está ao lado. Porque, no fim, não desejamos apenas companhia, desejamos encontro e, encontro só acontece quando ousamos estar disponíveis de corpo e alma.

Hanna Magalhães

Psicóloga e Psicanalista Clinica, especializada em transtornos de ansiedade, depressão.