Depois de ter sido liberado para comercialização em 2020, por conta da pandemia de Covid-19, o álcool líquido 70% voltou a ser proibido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Antes da pandemia, a Anvisa já tinha proibido a venda de álcool líquido 70% no Brasil desde 2002, por conta de ser um produto muito inflamável, além de já ter registrado um alto número de acidentes por queimadura ou digestão, principalmente por crianças.
“Tanto o álcool quanto a gasolina são produtos líquidos muito voláteis. Eles passam a situação de gás muito rapidamente. As pessoas acabam se aproximando excessivamente do combustível acreditando que o fogo só vai incendiar quando ele encostar no líquido, mas na realidade já existe uma nuvem de gás inflamável muito maior e invisível. E é por isso que não se usa gasolina nem álcool para fazer forneiras”, explicou o infectologista Francisco Job.
Em 2020, como uma das opções para limpeza e higienização do vírus da Covid, o produto tinha sido liberado temporariamente para comercialização e voltou a ser proibido com o fim da pandemia. De acordo com a Anvisa, o prazo da última autorização expirou em dezembro do ano passado. O motivo ainda é o mesmo: preocupação com o elevado número de acidentes com o produto, considerado altamente inflamável pela agência.
Mesmo com o decreto tendo o prazo no final do ano passado, farmácias e supermercados ainda podem continuar comercializando a versão líquida 70% até acabarem os estoques até o dia 30 de abril, antes do veto total para a comercialização.
Para a higienização, infectologistas dizem que a melhor forma ainda é o uso de água e sabão, mas que o álcool em gel continuará sendo comercializado e é uma forma de higienização emergencial das mãos. Já para a limpeza geral de superfícies como mesa e azulejos, o desinfetante é uma boa opção.
Um levantamento informal realizado pela Sociedade Brasileira de Queimaduras (SBQ) apontou que o Brasil registrou ao menos 700 internações por queimaduras com álcool líquido, 70% só no primeiro ano da pandemia de Covid-19, em 2020. Os dados foram analisados junto com 36 Centros de Tratamento de Queimados (CTQs) e de hospitais gerais do país, durante os meses de março a novembro de 2020.
De acordo com o levantamento, o número de casos poderiam ser maiores, já que a pesquisa não levou em conta os acidentes de menor grau, aqueles que não precisaram de hospitalização.
Segundo o Conselho Federal de Medicina (CFM), logo após a liberação do álcool líquido 70%, em alguns centros de tratamento de queimaduras, o volume de ocorrências subiu 2,5 vezes nas primeiras semanas. Um outro levantamento da SBQ realizado em 56 centros de tratamentos de queimados no Brasil, mostrou redução média de 65% dos acidentes por álcool, seis meses após a proibição.