Valinhos vai receber o espetáculo “Uma Porta Sem Casa”, criado pelo grupo híbri.duo, no próximo sábado, 28, no Teatro Darci Rossi, às 19h. O espetáculo tem entrada gratuita e acessibilidade em Libras. “Uma Porta Sem Casa” é um espetáculo que usa a música e a dança como forma de contar a história de Júlia, uma jovem que tenta reconhecer sua individualidade e dar sentido à sua história, a partir de reflexões sobre seu passado e sonhos para o futuro. Para o híbri.duo, o espetáculo é indicado para todos aqueles que procuram uma casa dentro de casa, em especial, aos que procuram desesperadamente, mas a apresentação é aberta para toda a população. O híbri.duo é formado por Lívia Porto, intérprete-criadora das artes da cena, e por Pansy Melo, musicista. A realização do espetáculo na cidade acontece por meio da Lei Paulo Gustavo, em que o projeto foi contemplado.
Para contar um pouco mais sobre o espetáculo, suas inspirações, motivações e a importância do projeto, Lívia Porto e Pansy Melo contaram um pouco mais sobre o “Uma Porta Sem Casa”:
1. Como e onde surgiu a ideia de criar o espetáculo “Uma Porta Sem Casa”?
A ideia de “Uma Porta Sem Casa” surgiu durante o desenvolvimento de uma Iniciação Científica em Dança na Universidade Estadual de Campinas, sob a orientação da docente Jussara Miller. Nesta pesquisa, investigamos a noção de improvisação fundamentada na Técnica Klauss Vianna, explorando a escuta do corpo e os estudos da presença — tanto em relação a si mesmo, ao outro, ao espaço e à cena.
Durante esse processo, tivemos contato com o livro “Pequena coreografia do adeus”, de Aline Bei, que se revelou profundamente poético e inspirador para nossas experimentações. Essa obra despertou em nós o desejo de contar sua história por meio da dança e da música improvisada, criando um diálogo que reflete nossas próprias vivências e a busca por pertencimento.
2. A partir da dança e da música, como o espetáculo vai abordar nossas relações e a individualidade?
Com uma intérprete-criadora e musicista em cena, este trabalho ressalta perspectivas e singularidades de cada indivíduo fundamentado em experiências da personagem Júlia Manjuba Terra e as relações cotidianas estabelecidas por ela. A partir deste hibridismo, o presente espetáculo conta com a literatura para construção do fio condutor do espetáculo.
Livremente inspirado na obra “Pequena Coreografia do Adeus” (2021) de Aline Bei, a montagem toma como ponto de partida a história de Júlia: sufocada por uma atmosfera de brigas constantes e falta de afeto, a protagonista tenta reconhecer sua individualidade e dar sentido à sua história, tentando se desvencilhar dos traumas familiares. Entre lembranças da infância e da adolescência, e sonhos para o futuro, a jovem se questiona acerca da solidão ao mesmo tempo que ensaia sua própria coreografia, numa sequência de movimentos de aproximação e afastamento de seus pais que lhe traz marcas indeléveis.
3. Qual a importância do espetáculo para a comunidade valinhense?
Consideramos o espetáculo importante por propor, através de três linguagens artísticas distintas (dança, música e literatura), retomar a importância da construção da identidade. Escolhemos este tema porque é algo que nos atravessa e compõe a trajetória e singularidades de cada um, reverberando em nosso cotidiano, uma vez que cada indivíduo tem seus próprios princípios morais tornando-o único.
Além disso, dialoga com a pluralidade cultural, diversidade e representatividade tanto na dramaturgia, que tem como assunto principal a relação do “eu” consigo mesmo e com o todo, como nos relacionamos com aquele que é diferente e como reconhecemos a importância do trabalho coletivo, é a partir das individualidades e das diferenças que o coletivo se torna potente.
4. Para vocês, qual o sentido/importância de se reconhecer a individualidade e dar sentido às nossas relações?
A reflexão é um aspecto importante em nossa proposta. Procuramos, dessa forma, levar o público a compreender o porquê dos fatos e a questioná-los. Entendemos que o conhecimento não é algo estático e que não há uma verdade absoluta. Sendo assim, não podemos assumir uma postura passiva diante do que nos é apresentado. Pretendemos, com este espetáculo, contribuir para a formação de cidadãos críticos e conscientes de seu papel social, fazendo uso do conhecimento adquirido de forma crítica, coerente, criativa e transformadora.
5. Quem é Lívia Porto e Pansy Melo? Qual a importância do projeto em suas vidas?
Lívia é atualmente graduanda no curso de Dança na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), onde já desenvolveu duas iniciações científicas acerca da comicidade na dança contemporânea e da Técnica Klauss Vianna, tendo iniciado sua vida artística através do Centro Cultural Vicente Musselli; Pansy, já com formação em Ciências Sociais, atualmente cursa Música Popular com ênfase em Guitarra, também na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), onde vem estudando, descobrindo e explorando as inúmeras possibilidades da trilha sonora e da música ao vivo para as artes da cena.
Sendo assim, o projeto do híbri.duo tem se tornado central em nossas vidas desde 2020, quando nosso interesse e pesquisas se juntaram e deram espaço para experimentações acerca do som, do corpo e do movimento. Já no ano seguinte, nosso primeiro trabalho enquanto duo, intitulado Cativo, fora contemplado com o edital emergencial Aldir Blanc da cidade de Valinhos e, agora, contemplado pelo edital LPG, estreamos Uma Porta Sem Casa.
6. Qual a importância do espetáculo ter sido contemplado pela Lei Paulo Gustavo?
Primeiramente, consideramos a Lei Paulo Gustavo de extrema importância pois destina recursos para a cultura, especialmente em um momento de recuperação pós-pandemia. Ela apoia artistas e produtores, promovendo diversidade cultural e acessibilidade, contribuindo para o fortalecimento da identidade cultural brasileira e o acesso à arte para todos.
Para nós, enquanto híbri.duo, vimos a oportunidade de transformar uma pesquisa acadêmica num espetáculo, onde pudemos pensar em cada detalhe da história e como transpor isso para um espetáculo visual e sonoro; além disso, também tivemos a oportunidade de dividir um pouco do nosso conhecimento através da oficina que ministramos, Entre Portas, na qual experimentamos jogos e técnicas colaborativas que foram fundamentais na criação do espetáculo, explorando diversas maneiras que dança e música podem se entrelaçar de forma espontânea e criativa.
