Série “Ángela”: quando o suspenserevela verdades silenciadas

A nova minissérie espanhola da Netflix, Ángela, não é apenas um suspense psicológico envolvente. Em seis episódios intensos, a produção revela o lado obscuro de relações abusivas e convida o público a refletir sobre a violência doméstica em suas formas mais sutis.

Ángela Rekarte é uma mulher aparentemente realizada, mãe dedicada e casada com um homem influente. Mas por trás da fachada de estabilidade familiar, ela enfrenta agressões físicas e emocionais frequentes. O terror dentro de casa é camuflado por aparências, status social e manipulações que silenciam sua dor. Elementos que tornam sua denúncia quase imperceptível aos olhos da sociedade.

Como psicanalista, é impossível ignorar os mecanismos de controle que se desenrolam na narrativa: gaslighting, despersonalização, isolamento afetivo. A chegada de Eduardo, personagem inquietante do passado que alega ter sido contratado para matá-la, desencadeia uma série de acontecimentos que desafiam sua percepção da realidade. O enredo mergulha no limite entre o trauma e o delírio, revelando como o abuso emocional pode desestruturar a consciência de quem o vivencia. Quantas mulheres passam por esse sofrimento oculto, sem apoio, sem provas, sem escuta?

Ángela é desacreditada, internada indevidamente e quase perde a guarda das filhas. Tudo faz parte de um plano cuidadosamente articulado para destruir sua estabilidade emocional. Ainda assim, ela resiste. Com coragem e o apoio de uma amiga, consegue expor publicamente seu agressor em uma cena marcada pela dor e pela força de quem escolhe romper o silêncio.

Mais do que ficção, Ángela é um alerta social. O roteiro apresenta um retrato honesto e contundente da realidade enfrentada por tantas mulheres: medo, culpa, invisibilidade. E lança um apelo claro aos profissionais da saúde mental, da justiça e da educação. É preciso enxergar além das aparências e estar disposto a ouvir com sensibilidade e responsabilidade.

Porque muitas vezes o perigo mora onde deveria existir cuidado. E acreditar na própria voz é, talvez, o passo mais poderoso na reconstrução da liberdade.

Cinthya Zari é psicanalista, Destaque nas áreas de Saúde Mental e Desenvolvimento Humano, Depressão Feminina e Perspectiva Psicanalítica, Ansiedade, Angústia, Fobia, Medo, Pânico e Trauma e Relacionamentos Tóxicos (Narcisismo)

“O despertar das sutilezas”