ONU faz apelo para maior rigidez no controle de armas enviadas ao Haiti

A ONU (Organização das Nações Unidas) fez um apelo para maior rigidez no controle de armas enviadas ao Haiti. De acordo com um relatório divulgado pela ONU nesta sexta-feira, 27, o país tem quase 13 pessoas mortas em média todos os dias devido a violência extrema que o país vem sofrendo. Desde janeiro, foram ao menos 3.661 mortos no Haiti devido à violência das gangues, que leva ao agravamento da crise humanitária no país.

Com o relatório, o Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos pediu controles mais rígidos sobre o tráfico de armas e outras medidas. “Não devem ser perdidas mais vidas devido a esta criminalidade sem sentido”, disse o comissário Volker Turk num comunicado. O relatório foi enviado um dia antes do mandato da força de segurança da ONU que dá apoio à polícia haitiana expirar.

O Haiti enfrenta há muito tempo um grave problema de violência de gangues, acusadas de assassinatos, saques, estupros e sequestros. Nos últimos meses, as ações dos grupos criminosos aumentaram e agravaram uma crise humanitária que já deixou quase 600 mil deslocados, segundo a ONU.

O Haiti solicitou inicialmente a missão em 2022 e esta foi aprovada há um ano, em outubro de 2023, quando o Conselho de Segurança da ONU aprovou o envio de uma Missão Multinacional de Apoio à Segurança (MMAS), liderada pelo Quênia, para ajudar a polícia haitiana. Até o momento, o Quênia enviou quase 400 policiais ao país da América Central, que também recebeu 20 agentes procedentes da Jamaica e de Belize.

Entretanto, o financiamento continua escasso e o Haiti pediu para que a  ONU considere transformá-la numa missão formal de manutenção da paz para garantir fundos e capacidade estáveis.

Turk disse que está claro que a missão precisa de “equipamento e pessoal adequados e suficientes para combater as gangues criminosas de forma eficaz e sustentável, e impedir que elas se espalhem ainda mais e causem estragos na vida das pessoas”.

O primeiro destacamento da missão em junho levou gangues a recrutar um grande número de crianças para as suas fileiras, afirma o relatório. Além disso, cerca de 100 crianças foram mortas até agora neste ano – algumas em ataques de gangues e outras em operações policiais, segundo o relatório.

A violência espalhou-se para além da capital, alimentada pelo tráfico de armas, principalmente dos Estados Unidos, mas também da República Dominicana e da Jamaica, que persiste apesar do embargo internacional de armas.

O relatório disse que espaços aéreos, litorais e fronteiras porosas mal monitorados estavam permitindo que gangues obtivessem armas de alto calibre, drones, barcos e “um suprimento aparentemente infinito de balas”.

O número de pessoas deslocadas internamente devido à violência quase duplicou nos últimos seis meses, para mais de 700.000, enquanto se estima que cerca de 1,6 milhão de pessoas enfrentam insegurança alimentar de emergência, o pior nível antes da fome.