O peso da comparação nas redes sociais

Vivemos em uma vitrine permanente. Nas redes sociais, todos parecem felizes, produtivos, viajando, com corpos perfeitos e relacionamentos impecáveis. Diante dessa enxurrada de imagens, muitos se perguntam: “E eu? Será que estou ficando para trás?”. A comparação, que sempre existiu, ganhou agora uma dimensão quase incontrolável.

No consultório, é comum escutar queixas de pessoas que se sentem insuficientes diante do que veem na internet. Jovens inseguros por não atingirem padrões estéticos, profissionais frustrados por acreditarem que “todo mundo está melhor”, casais questionando o próprio vínculo porque não se parecem com os retratos românticos publicados por outros. A vida real, com suas imperfeições, parece sempre menor que a vida postada.

A saúde emocional depende da capacidade de ser verdadeiro consigo mesmo. Mas em um mundo de exibição, corremos o risco de viver mais para aparecer do que para existir. Isso gera um mal-estar silencioso, a sensação de que não estamos à altura de um ideal que, no fundo, é impossível de alcançar.

A lógica da comparação cria uma ferida narcísica, olhamos para fora e nos desconectamos de dentro. É como se a régua da nossa própria vida estivesse sempre nas mãos dos outros e, quanto mais nos medimos pelos padrões alheios, mais difícil fica reconhecer o valor daquilo que é singular em nós.

Porém, não precisamos demonizar as redes sociais, elas podem ser fonte de troca, informação e até de acolhimento. Mas é fundamental lembrar que o que vemos ali é um recorte, cuidadosamente editado. Por trás da foto sorridente, pode haver dor. Por trás da viagem perfeita, pode existir solidão.

A saída não está em abandonar a internet, mas em fortalecer a capacidade de se olhar de maneira honesta e gentil. Perguntar-se menos “como eu pareço?” e mais “como eu me sinto?”. Talvez o maior ato de liberdade no mundo da comparação seja viver uma vida que não precisa ser exibida para ter valor.

Hanna Magalhães

Psicóloga e Psicanalista Clínica, especializada em
transtornos de ansiedade, depressão.