O Brasil registrou mais de 86 mil denúncias de violência contra a mulher de janeiro a 31 de julho deste ano através da Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180. Dos quase 600 mil atendimentos realizados pelo Ligue 180, o registro de violência contra a mulher ocupa o terceiro lugar. Só em Campinas, os dados apontam que neste ano foram 1.655 casos de violência contra a mulher, mas que destes apenas 300 denúncias foram de fato formalizadas.
Segundo dados da pesquisa Visível e Invisível: a Vitimização de Mulheres no Brasil, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e do Instituto Datafolha, só em 2024 a violência atingiu 27 milhões de mulheres. O número representa que pelo menos 37,5% das mulheres brasileiras já sofreram ao menos algum tipo de violência física, sexual ou psicológica cometida por um parceiro íntimo no último ano. Em Campinas, foram mais de 4.894 registros em 2024, mas com apenas 866 denúncias oficiais.
Para a advogada e coordenadora do curso de Direito da Faculdade Anhanguera, Juliana Frozel, a violência contra a mulher cresce nos cenários de dor e silêncio. “O medo de denunciar está ligado a diversos fatores, como dependência emocional, financeira, medo de represálias, vergonha e até desconhecimento sobre os próprios direitos. Muitas acreditam que não terão acolhimento ou que a denúncia não vai mudar sua realidade”, afirma.
Pensando no número de casos de violência contra a mulher, mas na baixa quantidade de denúncias formalizadas, o mês de agosto é conhecido por ser voltado a campanha de conscientização e prevenção a violência contra a mulher, o Agosto Lilás. O mês foi escolhido para levar a campanha devido a criação da Lei Maria da Penha, sancionada em 7 de agosto de 2006. Completando 19 anos em 2025, a Lei Maria da Penha é uma das maiores leis federais que protege mulheres vítimas de violência e que prevê punição ao violentador.
Juliana destaca que, ao longo de quase duas décadas, a Lei Maria da Penha se tornou um marco na proteção às mulheres, estabelecendo medidas protetivas, criminalização do agressor, atendimento prioritário e até direito à matrícula em escolas para vítimas e seus filhos. “Foram grandes conquistas, mas é preciso reconhecer que a eficácia da lei depende de sua aplicação, fiscalização e principalmente da confiança das mulheres em usá-la”, reforça a docente. O desafio, segundo ela, vai além do campo jurídico. Envolve educação, autonomia econômica e políticas públicas de prevenção e acolhimento. “Precisamos de ações contínuas, não só em datas simbólicas. A mulher precisa saber que não está sozinha, que tem onde buscar ajuda e que será ouvida com respeito”, afirma.
Ela destaca que, para mudar esse cenário, é essencial ampliar o debate desde cedo. “Educar para a igualdade de gênero nas escolas, nas famílias e nas empresas é parte do caminho. Além disso, oferecer oportunidades para que as mulheres tenham independência financeira pode ser decisivo para sair de um relacionamento abusivo”, pontua.
Dentro da campanha, estados e municípios promovem uma série de ações em prol do Agosto Lilás, com palestras, rodas de conversa, entrega de panfletos informativos e outras ações. Na região, diversas cidades já aderiram a campanha e promovem ao longo do mês as atividades para a população.
Em Paulínia, as atividades já começaram e seguem nesta terça-feira, 12, com palestras ministrada pela Psicóloga e Neuropsicóloga, Haluana Castro, na EMEFM Maestro Marcelino Pietrobom, para falar dos “5 tipos de Violência Doméstica e Impactos Psicológicos”. Já na quinta-feira, 21 de agosto, a especialista estará na ETEP, a partir das 19 horas, para falar sobre “Violência Doméstica e Relacionamento Abusivo”. Encerrando o mês e a campanha, no dia 28/08 a partir das 9h, no Auditório Carlos Tontolli, localizado no Paço Municipal, acontece um workshop de Autodefesa Feminina, que será coordenado por Cássia Zarelli, Instrutora de Defesa Pessoal Feminina. A programação terá ainda flash mobs organizados pela Secretaria da Mulher em diversos pontos de grande circulação da cidade.
Em Vinhedo, uma das principais ações em prol da campanha é a Caminhada de Conscientização pelo Fim da Violência contra a Mulher, que chega a sua terceira edição neste ano. Além disso, a cidade promove ainda o 1° Evento Mulheres em Movimento. Ambos os eventos acontecem no dia 31 de agosto, das 8h às 17h, no Parque Municipal Jayme Ferragut, reunindo ações de mobilização social, atividades culturais, esportivas e espaços de escuta e acolhimento. A concentração da caminhada terá início às 8h, com saída prevista para 9h. As 300 primeiras pessoas inscritas receberão uma camiseta gratuita, que poderá ser retirada no local, no início do evento.
Já em Valinhos, a campanha será aberta oficialmente na segunda-feira (11) com a caminhada “Pela Vida das Mulheres”. A concentração terá início às 7h30, com uma ação na Rodoviária, seguida de pedágio educativo no cruzamento da Avenida dos Esportes com a Avenida Onze de Agosto, e a caminhada saindo do CACC Adoniran Barbosa em direção à Prefeitura, acompanhada pela viatura da Patrulha Maria da Penha. A programação segue na quarta-feira (13), às 16h, com atividades durante a feira ‘Quarta é feira’ no CACC Adoniran Barbosa com panfletagem, aferição de pressão, orientação nutricional, apresentação musical e uma encenação teatral sobre as diferentes formas de violência contra a mulher. Na segunda-feira (18), uma aula especial de Zumba será realizada em frente à Prefeitura, das 8h às 10h, como incentivo ao autocuidado e à autoestima das mulheres. Na quarta-feira (20), será promovido um pedágio de conscientização com distribuição de materiais informativos na Avenida Invernada, das 8h às 11h. A campanha segue na terça-feira (26) com uma programação especial no Centro de Convivência do Idoso (CCI), das 13h às 16h, que inclui palestra sobre os direitos das mulheres, ação de cuidado com cabelo e maquiagem e a sessão de fotos ‘Mulheres que Inspiram’. O encerramento será na sexta-feira (29), das 9 às 12h, também no CCI, com um mutirão de serviços como atendimentos jurídicos, psicológicos e informativos para as mulheres.
Para além das ações, estados e municípios reforçam a importância de canais como o 180 (Central de Atendimento à Mulher) e o 190 (Polícia Militar) são essenciais para o rompimento do ciclo de violência. “O silêncio não protege, ele perpetua. A mulher precisa ser acolhida, não julgada. A denúncia pode ser o primeiro passo para salvar uma vida”, finalizou a advogada.



